Para além das exposições que participa, destacando-se Elas: mulheres artistas no acervo do MAB-Faap, em São Paulo, Gráfica Latinoamericana y del Caribe, em Beijing, Southern Hemisphere International Exhibition “Passage”, em Seul, Bonomi realiza obras de importância, como Popessuara, composta para o álbum comemorativo dos 100 anos da Pinacoteca de São Paulo, peças em aço inox, recortadas a laser. Elabora o troféu da Associação Brasileira dos Críticos de Arte.
Também compõe bancas acadêmicas e da consultoria para cenários e figurinos que elabora para a peça Diálogos de Salomé com São João Batista direção Sergio Ferrara no Teatro Sergio Cardoso. Desde 2014 Maria se envolve na pesquisa e testemunho da produção do livro sobre sua obra da historiadora e crítica de arte, professora da Universidade de São Paulo, Mayra Laudanna.
Publicação necessária, A Dialética Maria Bonomi, editada na Suíça, pela Éditions du Griffon, apresenta uma artista que “emerge como um dos mais importantes expoentes da arte brasileira e internacional da segunda metade do século XX”, nas palavras do também professor da USP e diretor da Biblioteca Mário de Andrade, Luiz Armando Bagolin.
Para o filósofo, “Maria Bonomi, talvez seja o único caso, de uma artista que tendo vivido e acompanhado de perto muitas das vanguardas artísticas a partir da segunda metade dos anos 1950, não se filiou a nenhuma delas, nem às abstrações, nem aos pop artifícios, nem aos novos realismos. Manteve-se fiel à xilogravura e à xilografia que entende como nomeações de desdobramentos diversos de sua atitude no momento do ato de gravar a madeira, utilizando-a a posteriori em outras matérias, sintéticos, metais, argila etc.” Para Luiz Armando Bagolin a obra de Maria Bonomi manifesta-se, na cidade, de maneira impactante, grandiloquente, relacionando-se sempre ao contexto com o qual ela busca ressignificar.
Além do livro, editado em três volumes (inglês, francês e português), também se apresenta uma mostra de 14 obras da artista na sede da editora em Neuchâtel, lugar, aliás, onde a artista realizou sua primeira exposição internacional em 1955.
A intensa relação da artista com as universidades e sua dedicação exaustiva ao ensino e à pesquisa das artes no Brasil, conduziram-na a uma homenagem da mais importante agência de fomento à pesquisa de São Paulo. No ano de 2015, a Fapesp convidou Bonomi a compor seu relatório de atividades com imagens de parte de seu acervo, comentadas pelo professor Teixeira Coelho. Para além da publicação, uma mostra individual na sede da instituição complementou a homenagem.
Se a honra lhe é concedida em São Paulo, no Rio de Janeiro, a artista, por sua vez, retribui a cortesia a uma sua amiga, também Maria, Bethânia. Para a mostra Maria de Todos Nós, Bonomi cria La Chanson, xilogravura forte e colorida: intensa, aliás, como a cantora.
Convidada pela Bienal Internacional de Artes Gráficas de Guanlan, na China, para integrar um ateliê de gravadores internacionais selecionados durante 45 dias, “G. Original Printmaking Base”, Maria Bonomi trabalhou em uma série de imagens inéditas nas quais atualiza temas já abordados e reinventa proposições artísticas.
Na exposição Arte na Moda: Coleção Masp Rhodia, a artista participa com um trabalho inusitado, em que estampa um vestido realizado nos anos de 1970, recuperado pelo museu sob curadoria de Tomás Toledo.
O ímpeto criador de Maria Bonomi mostra-se vigoroso em 2014 na instalação Circumstantiam. A convite do Sesc, a artista é incitada a instalar no vão do Sesc Belenzinho uma obra que radicaliza as ideias que sempre a perseguiram: grandiosidade e reprodutibilidade. A obra, na qual se inscrevem 15 xilogravuras em 21 quadrantes de 4 x 4 m cada, entre cabos e espelhos suspensos, executadas em papéis recicláveis e em alumínio degradável, é exemplo de obra efêmera a ser distribuída em espaço público após seu desmanche, como em Infecção da Memória, obra de 2005.
Singulariza-se Circumstantiam, obra cujo tema remete às questões ambientais de preservação e de poluição de nosso planeta, não por suas dimensões ou por sua efemeridade, mas sim por exigir do espectador que este percorra o espaço, vislumbrando a obra dos diversos pontos do edifício, inclusive de dentro da piscina do complexo, situada sob um teto de vidro através do qual se divisa os reflexos das gravuras transpostas digitalmente para os papéis colossais.
Mas como para a artista a gravura é sempre “perene-mutante”, após o desmanche da instalação, Bonomi reutiliza várias das gravuras pelos corredores da estação República do Metrô e, posteriormente, aquelas que não foram usadas anteriormente, por iniciativa do gravador e impressor Alemão, são levadas para a estação de trem em São Caetano do Sul, fazendo com que o público se amplifique.
Ainda nesse ano, Bonomi inaugura obra de arte pública na Bahia, instalada no inovador edifício Ópera de Trancoso. Esse trabalho, composto por dois painéis de bronze, segundo a artista, soleniza o descobrimento do Brasil, “a fauna e a flora nas falésias mágicas a beira mar, esculpindo duas placas em alto e baixo relevo, de 3,70 x 2,50 m pesando 400 kg cada uma. Foram incrustadas nos gigantescos vãos triangulares da fachada da obra de François Valentiny, projetada para 1.200 pessoas.” (patrocínio L’Occitane).
Em teatro, da Bahia ao Rio, da parede ao palco, a artista, versátil, e sempre ligadas às questões que permeiam o mundo da arte, realiza os cenários e figurinos para a peça Gertrude Stein, Alice Toklas e Pablo Picasso. Espetáculo apresentado no Teatro Leblon, cujo mérito é oferecer, nos dias de hoje, espaço para a reflexão sobre o papel da vanguarda na construção do pensamento moderno, seja artístico, seja comportamental.
Por esse protagonismo nas questões culturais do Brasil e da cidade de São Paulo, recebe Maria Bonomi, por unanimidade, do então vereador Andrea Matarazzo, a mais alta honraria da Câmara Municipal: o título de cidadã paulistana. Nas palavras do ex-embaixador brasileiro em Roma: “O legado da artista para a sua cidade por adoção é imenso [...] ela inscreveu seu nome na história de São Paulo a partir de trabalhos no campo da arte pública, [...] criando referências que congregam e orientam a população”.
Desde o primeiro decênio dos anos 2000, em comemoração aos seus mais de 60 anos de carreira, Maria Bonomi inaugura uma série de exposições individuais, coordenadas por Maria Helena Peres Oliveira, nas quais apresenta uma seleção de seus trabalhos mais importantes. Nessas mostras, organizadas na Pinacoteca de São Paulo em 2008, na 32 Gallery de Londres em 2009, no CCBB de Brasília em 2011, na Maison de l' Amérique Latine de Paris em 2012 e no Circulo de Bellas Artes de Madri em 2013, Bonomi continua a demonstrar toda sua qualidade e energia, pois, além de mostrar trabalhos que evidenciam a importância de sua trajetória iniciada no decênio de 1950, também expõe obras recentes.
Destaca-se, ainda nesse ano de 2013, um aspecto menos conhecido da artista, mas não menos importante. Maria Bonomi sempre esteve ligada às discussões que conduziram uma política cultural e artística na cidade de São Paulo e a de outros estados do país. Seja acompanhado as conversas e negociações que fundaram muitas das instituições culturais de São Paulo, como a própria Bienal de São Paulo, seja à frente do debate sobre o acesso à arte ou sua profissionalização, assim como sobre o papel das galerias no cenário artístico brasileiro, Bonomi firmou-se, ao longo de sua carreira, como referência para o cenário artístico nacional. Não por acaso integrou inúmeras comissões e conselhos de importantes instituições brasileiras, como os do MAM, da Pinacoteca, do MASP, da OSESP, da Associação Internacional dos Artistas Plásticos, do Sindicato dos Artistas Plásticos, do Instituto Lina Bo e P. M. Bardi, da Fundação Bunge, entre outros.
Navegar é Preciso é obra pública, fundida em bronze, feita a partir da proa de um navio que transcorre o ano 2012 e aporta, reluzente, nos jardins do Palácio dos Bandeirantes, sede do governo do Estado de São Paulo.
Desse espírito inquietante e desbravador que sempre acompanhou Maria Bonomi, fundou-se a necessidade da expansão de sua arte para novos públicos. Do Brasil à França, cruzando o Oceano Atlântico e desembarcando em Paris, a artista apresenta uma mostra individual na Maison de l' Amérique Latine. Da capital francesa para a eslovena, participa de uma importante exposição coletiva levada no International Centre of Graphic Arts of Ljubljana, The Big Ones!, certame que procurou apresentar e discutir a inserção de obras de grandes dimensões no conjunto das artes gráficas no mundo, destacando os artistas que tiveram papel preponderante e revolucionário nesse aspecto, como Maria Bonomi, que desde o decênio de 1960 reivindicava as paredes da Bienal de Paris com gravuras que excediam a dimensão usual dessa arte.
“Criação Incessante” é epigrafe que conduz a curadoria de Jorge Coli na mais completa exposição individual realizada de Maria Bonomi, reunindo mais de trezentas obras no CCBB de Brasília, incluindo trabalhos realizados na sua infância. Exposição marcante, não só pelo conjunto de obras exibidas, pois distingue-se por apresentar uma série de trabalhos inéditos, resultado de uma dedicação incansável de Bonomi à sua arte. Entre as novidades destacam-se as obras que realizou em incursão na arte digital após uma vivência em São Francisco com expoentes dessa linguagem gráfica inovadora: Cairo January, Trozo e Lena são exemplos. Aliás, o espírito ousado e transformador sempre orientou a Maria Bonomi em suas incursões artísticas nas mais diferentes linguagens.
Se na experimentação digital se distinguiu a artista, com louvor, na gravação artesanal se sobressaiu, com excelência, pois grava, nesse ano, a xilogravura A Ponte. Obra monumental, que ultrapassa 1,70 x 2,60 m, encontra nas palavras de Jorge Coli ressonância quando ele escreve sobre a instalação que a artista faz multiplicando as ondas sob a ponte proliferarem pela parede com a série Águas Sólidas: objetos de aço recortados a laser. Apesar da exaltação do professor da Unicamp, é somente em 2015, nas palavras de seu colega Teixeira Coelho, que A Ponte é erguida como metáfora da própria artista e de sua trajetória. Segundo o professor da USP, ver a gravura “faz bem aos olhos e à alma”, pois que é exemplo de uma “arte do tamanho do mundo”.
Ainda segundo Teixeira Coelho a propósito da xilogravura, “Maria redefiniu a gravura ao recusar o cenário intimista, tímido e sombrio da gravura naturalista, quase doloroso, para dar a esta linguagem, com a ampla dimensão e a cor, as várias perspectivas de um mundo excitante. Em mais de um campo da arte, a ode é a opção do artista para expressar seu prazer e entusiasmo pela arte e pela vida: essa mesma palavra define com eloquência a obra de Maria Bonomi, uma ode continuada à vida e ao mundo, algo que fica mais evidente no cenário informal de seu ateliê do que nas exposições regradas e demasiado bem comportadas de um museu e galeria.”
É a partir dessa ideia transformadora que Bonomi cria, em 2010, Favela e Paris Rilton. Se na primeira, fundida em alumínio, a artista aponta para uma dimensão cívica de seu trabalho, na segunda, aborda, com ironia, aspecto da banalidade comportamental. Paris Rilton é peça fundida em bronze, ferro e alumínio, sulcada pelo refinamento próprio da artista, sobreposta a espelhos. Na parte superior há um orifício através do qual se podem retirar as mais inesperadas futilidades do aparato de embelezamento feminino, clara referência à ausência de conteúdo de alguns expoentes da mídia, a exemplo da socialite herdeira de uma das maiores redes hoteleiras no mundo. Acompanha a escultura um vídeo experimental realizado com Walter Silveira que ilustra anedoticamente a proposta.
Depois de cinco dias de trabalho incessante no ateliê da Fundação Iberê Camargo, com o mestre-impressor Eduardo Haesbaert, em Porto Alegre, Bonomi realiza duas gravuras, uma em homenagem ao grande pintor, Hommage a Iberê Camargo, e outra inspirada não só pela sala subterrânea da instituição, cuja atmosfera remeteu a artista a um conto de Borges, mas sobretudo pela ideia de imensidão que o contraste das árvores vistas pela janela da sala faziam em relação às paredes brancas: Aleph é nome da gravura em metal que remete ao início, pois letra inicial do alfabeto hebraico, e ao universo, conforme a imaginação fantástica do escritor argentino.
Nesse ano de 2009, Maria Bonomi apresenta-se em exposições internacionais, entre as quais se destaca a individual levada à Galeria 32 de Londres, apresentada por Marcelo Araújo, assim como a sua participação na Biennale Internazionale Dell'Arte Contemporanea di Firenze, pela qual recebe grande prêmio.
Apesar de se dedicar a mostras internacionais, a gravadora, voltando-se a sua produção artística, funde, em alumínio, Amor Inscrito. Segundo Bonomi, a obra, gravada em gesso, recria, nos sulcos, atos de amor experimentados, dos quais derivam. Obra singular, Amor Inscrito resulta de infinitas possibilidades técnicas: se por um lado a artista trabalha a solidificação do alumínio sobre os elementos vazados, invertendo a lógica do sulco, de outro, extrai da matéria traçada o objeto artístico. Segundo Ana Maria Belluzzo: “as obras artísticas de Maria Bonomi resultam do adensamento da experiência. E seu tempo de elaboração compreende transformações, superposições, retomadas sob novas perspectivas, recuos e avanços”.
Nesse ano de 2009, também se solidifica uma relevante iniciativa de preservação da memória artística de Maria Bonomi. Maria Helena Peres Oliveira instaura e coordena uma instituição que visa concentrar a parte mais significativa da produção artística de Bonomi, assim como a sua fortuna crítica, seja através da organização de um banco de dados bibliográfico seja através da constituição de um acervo de obras e matrizes. O Atelier Maria Bonomi Ltda se constitui como centro fundamental para produção e divulgação da artista e da gravura em geral, equipado com todo instrumental necessário à feitura das três principais técnicas da gravura, um forno para queima a altas temperaturas, mas também um departamento de relações comerciais, responsável pela venda e empréstimo das obras.
Por convite de Oscar Niemeyer, a experiência de arte coletiva se repete, ressignificada, no projeto Etnias: do Primeiro e Sempre Brasil, obra instalada no túnel principal de acesso ao Memorial da América Latina em São Paulo, cujos temas apresentam nossos índios e todo o processo de aculturação e destruição que eles sofreram ao longo de 500 anos de história. Além de envolver uma grande equipe de artistas e técnicos, participam da execução do conjunto dessa obra índios guaranis, representantes de aldeias localizadas nos arredores de São Paulo e de outras regiões do Brasil. Resultado de uma intensa pesquisa em textos de Darcy Ribeiro, mas também em vasta coleção de iconografia colonial, o painel procura trazer o olhar do passante para questões relativas à contribuição do indígena na formação da cultura brasileira em três fases, gravadas em barro e transformadas em cerâmica, bronze e alumínio. A primeira representa o território e cultura indígenas antes da ocupação portuguesa, a segunda relaciona elementos europeus e nativos, mostrando como os viajantes enxergavam os naturais americanos, a terceira remete à atualidade, atentando para a questão da destruição dos índios brasileiros.
Ainda em 2008, Maria Bonomi é a convidada especial da X Bienal do Recôncavo e realiza duas grandes exposições individuais, uma na Pinacoteca do Estado de São Paulo, apresentada por Ana Maria Belluzzo, e outra no Centre de la Gravure et de l'Image Imprimée, de Bruxelas, organizada por Catherine de Braekeleer. A propósito da referida exposição, escreve a diretora do centro belga: “A abordagem plástica de Maria Bonomi é composta de múltiplas facetas: através de um contato permanente com a matéria que ela ataca e tritura em um gestual fundamentalmente orgânico e sensorial, a artista faz surgir de suas matrizes ritmos cujas vibrações profundas e sensuais ressoam de uma exultação gráfica; esta abordagem lírica é acrescida de uma dimensão cívica e humanitária que encontra seu total florescimento em diversas criações de arte pública”.
Ana Maria Belluzzo, a propósito da exposição Gravura Peregrina, levada à Pinacoteca do Estado de São Paulo em 2008, escreve que “para Maria é sempre a vez de jogar. Jogos simbólicos, em que paisagens construídas pelo olhar se encontram com lugares interiores. Jogos de sentido operados no momento de recortar a forma, no momento de sua impressão. E a vez de mover, de mexer, de mudar de posição, tirar do lugar, transpor a técnica de gravura para outros materiais e suportes. Brincar e sabotar regras do jogo. Do mesmo modo que Maria joga com as matrizes da gravura, joga com as palavras. Os nomes dados aos trabalhos não prescrevem as obras, conversam com elas”.Plexus é obra fundida em alumínio cujos sulcos protagonizam afetos. A escultura, instalada em 2013 na Praça Oswaldo Cruz, no início da Av. Paulista, é representação do amor. Segundo a artista, Plexus “é uma experiência sensorial na qual procurei revelar dentro do sulco um corpo”.
A intensidade dos talhes apaixonados que marcam as faces da obra Plexus multiplica-se, recortada, em Love Layers, série de objetos fundidos em bronze, latão e alumínio que, como o nome indicia, particulariza a sexualidade.
De Viés é a mostra individual que Francisco Bosco apresenta no Museu Oscar Niemeyer de Curitiba, com um conjunto significativo dos trabalhos que a artista desenvolveu durante toda sua carreira.
Essa longa e profícua caminhada é, a propósito, elemento do livro Maria Bonomi: da Gravura à Arte Pública, de Mayra Laudanna e Leon Kossovitch editado pela Edusp e Imprensa Oficial. Obra fundamental para a compreensão da trajetória da artista, em particular, e da história da arte no Brasil, em geral, a publicação apresenta Bonomi como um dos maiores expoentes das artes do país, situando-a também como protagonista nas discussões sobre arte pública. Divido em três capítulos, o livro apresenta, primeiramente, a tese de doutoramento da artista, defendida na Universidade de São Paulo, “Arte-Pública: Sistema Expressivo/Anterioridade”, onde ela propõe a arte como ponto de partida para a formação plena do cidadão. Complementando a tese, uma cronologia artística e uma crônica, divisada por seus autores.
Segundo Teixeira Coelho: “Ler e ver este livro é uma ocasião para lembrar, ainda, que Bonomi é um dos artistas centrais na arte daqui e de fora. Isso não é para qualquer um. A multiplicação de sua presença e prêmios no exterior não a fez porém esquecer-se daqui e do que aqui estava em jogo, como mostram sua adesão, sob a ditadura, ao boicote à Bienal de 1969 e suas brigas com a Bienal nos anos 90 sob Collor e sua política de terra cultural arrasada. É um livro grande, mas leve e que termina com uma ‘crônica artística’, assinada pela organizadora e por Leon Kossovitch, que é uma espécie de cronologia investigativa capaz de substituir com vantagem muito estudo teórico. Um livro que de início parece fragmentado e informal demais para uma artista desse porte mostra-se denso e cativante - como a imensa vida de Maria Bonomi. Poderia ter sido um livro bilíngue: lá fora precisam saber mais de uma artista que é tanto daqui quanto de lá. Precisam e gostariam.”
Tomada pelo sentimento diagonal do homem-gol, rasgando a madeira e construindo a linha, Maria Bonomi, avançando na vaga geometria do sulco, traçando a paralela do impossível, emplaca gravura mais que fundamental: Gool!!!, obra que capta o visual de um chute a gol e a emoção da ideia quando ginga, como tanto queria o compositor carioca Chico Buarque. Para o delírio dos torcedores na Alemanha, Bonomi, mais dez convocados, leva às galerias da embaixada brasileira a verdadeira arte do futebol nacional com a exposição Os Onze – Futebol e Arte, a Copa da Cultura.
Ainda nesse ano de copa do mundo, a artista conquista a vitória, mesmo que em outros campos, e é condecorada com a Grã-Cruz da Ordem do Ipiranga pelo então governador do Estado de São Paulo, Cláudio Lembo.
Destacada gravadora, Bonomi é artista homenageada da II Bienal Internacional Ceará de Gravura com sala especial.
Desenvolvendo possibilidades da arte pública, reproduz em alumínio Eroscopia, painel de 1990 concebido em concreto para uma residência em São Paulo.
Também neste ano cria e instala em Curitiba Floresta Navegante dentro do projeto Parque Temático das Esculturas, convidada pela Votorantim. Escultura em concreto armado de 34 metros de comprimentos aproximadamente, rodeando quatro pujantes araucárias “homenagem às florestas, que somente caem quando derrubadas, aos troncos que navegam para reflorestar o mundo”.
Maria Bonomi, “Vestida de Luz e Cubierta de Blanco”, manifesta-se no ano de 2005 “Viajando por el Mundo” com dezenas de exposições, individuais e coletivas, no Brasil e no exterior. No Museo de Huelva, Samir Assaleh, curador da mostra, ilumina o conjunto da obra da gravadora e exalta as viagens da artista em direção ao sonho e à beleza. Destaca suas cores, mas também a imensidão de suas gravuras, que conquistam não só as planícies espanholas como também as distantes terras orientais. Na China, a artista participa da Second Beijing International Art Biennial, e retoma uma profunda relação artística com o país, iniciada nos anos setenta com a série Transamazônica e China.
Se as viagens que a artista faz em direção ao sonho e à beleza são as substâncias de suas gravuras, são também a essência da cenografia e dos figurinos que faz para a peça escrita por Ignácio de Loyola Brandão e dirigida por Sérgio Ferrara: A Última Viagem de Borges; espetáculo apoiado pelo Sesc que abriu o Festival de Cinema de Curitiba, seguindo, pouco depois, para São Paulo.
Dorival
Caymmi é homenageado da artista: Sábado
em Copacabana é obra que reverbera na exposição A Imagem do Som, levada às grandes capitais brasileiras.
Desde a peça dedicada
ao escritor portenho até a mostra em homenagem ao compositor baiano, muitos
foram os projetos coletivos com os quais Maria Bonomi colaborou, demonstrando,
mais uma vez, que a arte é coletiva e por isso deve ser socializada. Tomada por
esse espírito que sempre orientou sua trajetória artística, Bonomi idealiza o
Atelier Amarelo. Coletivo instalado em 2005 no centro de São Paulo, em parceria
com a Secretaria Estadual de Cultura, essa oficina artística possibilitava aos
artistas residentes, selecionados por edital, proporem reflexões sociais e
poéticas acerca da cidade. Durante as três gestões de atividade do Atelier,
mais de duas dezenas de artistas puderam aprofundar seus conhecimentos
artísticos e encontrar novas correspondências profissionais para sua arte. Destacam-se
entre os artistas que passaram pelo projeto Fabrício Lopez e Henrique de
Oliveira.
Em 2000, a artista conclui Nemeton, painel para o edifício Faria Lima Premium. Nemeton, segundo a artista, palavra de origem céltica, significa, ao mesmo tempo, floresta e santuário. No ano seguinte, Bonomi participa, com sala especial, da 3rd. International Triennial of Graphic Art, em Praga. Nas Trienais de 1998 e de 2004, é curadora da delegação brasileira e membro do Juri Internacional de premiação.
Em 2002, Bonomi instala, na sede do Serasa, em São Paulo, escultura concebida a partir de troféu que ela cria a pedido da Instituição em 1993. Ginete Serasa, alumínio gravado medindo mais de 4,50m de altura, simboliza cavalo e cavaleiro, meio e mensagem, juntos, conduzindo a informação. Ainda em 2002, Maria Bonomi expõe Náiades e Ninfas, objetos côncavos e convexos, fundidos em bronze, latão e alumínio criados, em 2000, em homenagem a Pietro Maria Bardi e Lina Bo Bardi.
Nesses anos, a artista recebe dois grandes prêmios pelo conjunto de sua obra: em 2000, Prêmio Mário Pedrosa, concedido pela Associação Brasileira dos Críticos de Arte; em 2002, Premi Italia nel Mondo, concedido pela Fondazione Italia nel Mondo.
Maria Bonomi doutora-se em Poéticas Visuais pelo Departamento de Artes Plásticas da Escola de Comunicação e Artes da Universidade de São Paulo, propondo questões sobre arte pública. Em sua tese, Arte Pública. Sistema Expressivo/ Anterioridade, a artista mostra que a arte tem de ser socializada. Para Bonomi, arte pública difere-se em sua gênese das outras formas de arte, por isso, deve ser pensada para o local de sua implantação, levando-se ainda em consideração o público passante. Como nos mostra a artista, arte pública não deve ser feita apenas para o embelezamento do local de sua implantação, mas antes, para criar referências, que orientam e congregam a população.
Em sua tese, a artista relaciona seis idéias básicas que encaminham um trabalho de arte pública: visualização, arte pública tem de ser impactante; execução, relação entre visualidade e tecnologia; localização, percepção do espaço capaz de criar oportunidades visuais; freqüência, ligada à localização, arte pública relaciona-se diretamente com transeuntes; história, cabe ao artista, ao fazer arte pública, narrar aspectos da memória social; adequação, a obra tem de integrar-se ao local.
Outras idéias que percorrem os trabalhos de arte pública de Maria Bonomi são as de arte coletiva e de autoria anônima. Em seus painéis, artistas, arquitetos, engenheiros, marceneiros, pedreiros, impressores e, até mesmo, cidadãos sem qualquer formação técnica, curiosos da arte, são incorporados à execução. Em sua obra, o passante, desde o começo, é participante.
Obra iniciada em 1994, Construção de São Paulo é concluída em 1998. Tratam-se de dois cubos em concreto instalados na estação de metrô Jardim São Paulo. Ocupando o alto da estação, suspensos, acima dos tri-lhos, os cubos vêm celebrar a cidade e aqueles que a construíram. Ilustram, nesse sentido, além de edifícios e personagens, concebidos geometricamente, também raízes de plantas, árvores e o Pico do Jaraguá, sufocados por uma urbanidade que se impõe.
Nesse mesmo ano, a pedido do Governo do Estado de São Paulo, Maria Bonomi faz dois painéis trabalhados em argila, fundidos em latão e alumínio, que se encontram expostos no Palácio dos Bandeirantes: Imigração e Substituição. Neles, a artista, como ela mesmo descreve, torna possível a visualização dos deslocamentos dos povos; imigrantes que, de uma maneira ou de outra, “transformam o lugar onde passam a viver”.
Ainda nesse ano de 1998, correspondendo à convite da Bienal Barro de América Roberto Guevara, Maracaibo, Maria Bonomi monta instalação em que desfaz a idéia de efêmero que acompanha qualquer obra desta natureza. Em Sobre a Essência: os Sete Horizontes do Homem, a artista cria universo no qual as camadas sobrepostas de espelho, sal, vidro, carvão, argila, cimento e terra podem ser remontadas em qualquer outro lugar. A partir de bula, a artista orienta o processo de feitura da instalação, indicando os caminhos a serem percorridos e os materiais a serem utilizados. Da montagem da instalação participa Carlos Pedreañez, artista venezuelano com quem Maria Bonomi realiza muitos outros projetos, dentre os quais: Passagem pela Imagem, 2001, Tetraz, 2003, Pele Humana Pele Urbana, 2005, Infecção da Memória, 2005, e Epopéia Paulista, 2005.
A partir de 1995 Maria Bonomi passa a ser a representante da delegação brasileira na International Exhibition of Graphic Art, em Liubliana.
Em 1996, Bonomi participa do 1º Brahma Reciclarte, onde expõe, no Jardim Botânico do Rio de Janeiro, Metempsicose, manequins recobertos com latas de alumínio enchapelados por garrafas de refrigerantes.
Em 1997, faz escultura móvel para o jardim do Arquivo do Estado de São Paulo, denominada Páginas. Nesta, Bonomi sulca a superfície do modelo em argila como se escrevesse através de seus instrumentos. Uma vez em alumínio, fundida para a posteridade, a inscrição eterniza-se, como quer a artista, em memória pública.
Nesses anos, Bonomi, dedicando-se à xilogravura, imprime formas que condensam energia gráfica em grandes dimensões. Cria assim obras cujas sínteses gráficas explodem em paixão e vitalidade; Sappho I, de 1987 e Apoteose de 1993, são exemplos disso. Nelas, a cor, impactante, revela jogo de transparências e desvelamentos.
Na série Tropicália, de 1994, a partir de incursão na arte fractal, Bonomi cria imagem originada de manipulação de matrizes que compõem uma forma, feita, desfeita e refeita.
A partir de relação com aspecto do vivido, faz O Pente. Tempo..., xilogravura de 1,00 m por 2,65 m, de 1993, na qual relativiza a banalidade do cotidiano, monumentalizando-o.
De modo semelhante, interpretando experiências, a artista cria Medusas, xilogravuras iniciadas em 1993 e apresentadas em 1996.
Em 1993, no 3º Studio Internacional de Tecnologias
de Imagem, a artista apresenta Tempo – Vídeo – Pente, obra feita a partir da xilogravura acima referida.
Em 1994, com o poeta Haroldo de Campos, Maria Bonomi publica O Elogio da Xilo. Situações Xilográficas, álbum de xilogravuras impressas manualmente e de impressos em jato de tinta que estabelecem relações visuais e verbais com o poema que o concretista dedica à gravadora.
Pensando na arte como inserção social, Maria Bonomi, correspondendo à convite, erige escultura na Praça da Ci, localizada no bairro paulistano de Pinheiros. Esculpido em pedra, e fundido em bronze, o monumento, metáfora da maternidade, homenageia Cecília Périgo Saldiva, mãe dos encomendantes.
Anjo, inaugurado, em 1992, pela então prefeita de São Paulo Luiza Erundina, figura na praça até abril de 2001, ano em que a escultura é destruída por ser, em parte, roubada.
Eleita presidente da Comissão Técnica de Arte da XXI Bienal Internacional de Arte de São Paulo, em 1990, Bonomi inicia projeto que tem por objetivo nova reestruturação da Bienal, privilegiando a arte aos negócios.
No ano seguinte, contudo, após denunciar irregularidades na administração da referida Bienal, é demitida do Conselho. Jacob Klintowitz, curador da mostra também é demitido. Instaura-se uma crise sem precedentes.
Maria Bonomi organiza sala especial na XX Bienal Internacional de Arte de São Paulo em homenagem a Octavio Pereira, mestre-impressor com quem inicia parceria em fins dos anos sessenta. Nessa sala são expostas litografias de diversos artistas que trabalharam com Octavio Pereira até sua morte, em 1988, destacando-se Darel, Renina Katz, Tomie Othake, Nori Figueiredo, entre muitos outros.
Em arte-pública, no Memorial da América Latina, ainda em construção, Bonomi é convidada por Oscar Niemeyer a erguer painel em solo-cimento, denominado
Futura Memória. Nele, a artista inscreve tradições míticas latinoamericanas que se estendem por todo território, do México à Patagônia. Através de signos, ela relaciona crenças e convicções capazes de unir a América Latina em uma única direção, desde seus tempos mais remotos até futuro desconhecido.
Maria Bonomi, nos anos que seguem, entre outras atuações, faz painéis exclusivos em residências de São Paulo e Manaus, assim como para instituições financeiras, a exemplo do Banco Exterior de Espanha, em Santiago do Chile, cujo projeto Bonomi entrega em 1984, e Banco Sudameris, em São Paulo, concluído em 1987.
Nesses anos ainda, Bonomi é convidada para a criação de troféus, como o Apetesp de Teatro, o Eldorado de Música e o Vilanova Artigas, para o Sindicato dos Arquitetos do Estado de São Paulo.
Maria Bonomi cria objetos côncavos ou semi-planos em latão, bronze e alumínio, fundidos a partir de argila sulcada. Epigramas, expostos na Galeria Múltipla, junto de Biombos, projeto de Haron Cohen, pintura de Maria Bonomi, são trabalhos que liberam a imaginação do fruidor, pois abertos para a decifração. Trabalhando o relevo e o brilho, Bonomi, em Epigramas, aponta para a arte como múltiplo, coexistente em espaços residenciais.
Nesse período, Bonomi participa de diversas exposições no Brasil e no exterior, exibindo principalmente litografias realizadas a partir de 1978. Uma dessas mostras acontece na Casa Taller Galeria de Arte, em 1980, no Paraguai, onde Bonomi, correspondendo à convite de Livio Abramo, apresenta-se em individual.
Em 1983, na 15th International Exhibition of Graphic Art, em Liubliana, Maria Bonomi recebe Prêmio do Juri Internacional por seu trabalho em litografia. Dois anos depois, na 16th International Exhibition of Graphic Art, por ocasião do prêmio recebido em 1983, Bonomi apresenta-se em sala especial com retrospectiva de seus trabalhos.
Tendo como inspiração uma paisagem filipina, arrozais em Bengüet, Bonomi cria painéis para o Hotel Maksoud Plaza, em São Paulo. Nesses painéis, Paisagem e Memória, a artista reproduz no concreto os sulcos da matriz em madeira. Pelos painéis, Maria Bonomi recebe o Grande Prêmio da Crítica, 1979, concedido pela Associação Paulista dos Críticos de Arte.
Em 1977, Bonomi integra o Conselho de Arte e Cultura da XIV Bienal Internacional de São Paulo, a primeira após a morte de Ciccillo Matarazzo. Nessa Bienal, caracterizada pela reestruturação, o Conselho promove a aproximação da mostra com países da América Latina, abrindo espaço para jovens artistas de todo continente. Aos artistas é dado, pela primeira vez, o direito de se candidatarem e de se autoclassificarem nas novas modalidades propostas, como por exemplo, Arte Catastrófica, Recuperação da Paisagem, entre outras. A maior inovação, contudo, é que os artistas podem apresentar suas propostas independentemente do suporte utilizado, ingressando na modalidade Arte não Catalogada. Todavia, Bonomi afasta-se do Conselho em 1977 em razão de desentendimentos com outros conselheiros e da indignação com os destinos das verbas da Bienal. No ano seguinte a artista reassume suas funções, participando da organização da I Bienal Latino Americana.
Patrick Goettelen, cineasta suiço, ainda em 1977, produz um curta metragem sobre a obra de Bonomi, intitulado: Maria Bonomi et la Force de la Nature.
Em artes gráficas, em parceria com a Glatt Ymagos, Bonomi dedica-se à litografia.
Produz também nesse ano, algumas obras exclusivas para empresas.
Partindo de suas experiências em cenografia e de suas pesquisas em artes gráficas, Bonomi inicia trabalhos em arte pública. Desde o decênio de 1960, as obras da artista se caracterizam pela monumentalidade. Expandindo-se, buscam convívio em espaços públicos e privados, publicitários e decorativos. Assim, passando da gravura à arte em concreto, Bonomi coloca em prática seu primeiro projeto, iniciado em 1974 e concluído em 1976: o altar da igreja Mãe do Salvador, mais conhecida como igreja da Cruz Torta, localizada no bairro paulistano de Pinheiros. Seguem-se a esse projeto o do edifício Jorge Riskalah Jorge, localizado na esquina da avenida Paulista com a rua Bela Cintra, e os do Esporte Clube Sírio, todos em São Paulo e datados de 1976.
Das pesquisas que a artista realiza na China e Amazônia, produz palestras, conferidas em museus de São Paulo, Rio de Janeiro, Porto Alegre, entre outros locais. Por ocasião de uma palestra sobre arte chinesa, conferida no Museu de Arte Moderna de São Paulo, a artista, como narra em depoimento de 2002, e o crítico de arte Alberto Beuttenmueller são brutalmente presos, encapuzados, amarrados e conduzidos a um lugar ermo. Depois de algumas horas, conta Bonomi, foram levados, sempre sob insultos, a um quartel responsável pelo controle de ameaças ao regime militar, acusados de simpatizantes do comunismo. Mesmo não podendo precisar o tempo de permanência no quartel, Maria Bonomi relata que foram momentos intermináveis e terríveis, pois submetida à intensivos interrogatórios.
Nesses anos, a gravadora dedica-se a uma série de gravuras realizadas a partir de viagens à Amazônia, China e Japão e de pesquisas efetuadas nesses lugares. As xilogravuras de Bonomi resultam de um enorme acervo de anotações, transformadas, aos poucos, na série Transamazônica e China. Desta série, destacam-se Como se Fossem Palavras, Cabis e Pedra Robat, obras nas quais a artista exorbita a dimensão comum das gravuras brasileiras, desenvolvendo-as à escala da natureza.
Em parceria com a Construhab, Maria Bonomi intenciona empreendimento artístico inovador, no qual artistas plásticos ocupam o hall de edifícios em construção para ali desenvolverem obras que se integrem à edificação. A esse empreendimento a artista denomina Espaço Vivo. Nicolas Vlavianos, escultor grego radicado no Brasil, é o primeiro a participar, realizando obra para edifício da rua Caiowaá, em São Paulo. O Espaço Vivo conta ainda com a participação de diversos artistas, como Evandro Carlos Jardim, Maria Helena Chartuni e a própria Maria Bonomi. Todavia, em virtude de dificuldades financeiras, Espaço Vivo não ultrapassa a experiência com Vlavianos.
Em relação à XII Bienal Internacional de Arte de São Paulo, Bonomi, apesar de aceitar o convite para expor em sala especial dedicada à Tarsila do Amaral, resolve apresentar filme em lugar de gravuras. Na parede da sala escreve a artista: “Aquilo que poderia estar neste espaço coube melhor em Detritos, filme de 16 mm, realização de Maria Bonomi e Thomas Farkas, em exibição nesta Bienal”. A atitude de Maria, como ela mesmo afirma, vem, mais uma vez, protestar contra os organizadores da mostra e contra a situação política do País.
Bonomi, atenta às especificidades da matriz, lança peças em poliéster colorido que reproduzem as matrizes de gravuras: Solombras, em homenagem à Cecília Meireles.
A gravadora, com isso, multiplica a matriz, fazendo dela tiragem.
Nesse mesmo ano, a pedido das indústrias Matarazzo, faz desenho para azulejos, junto de artistas como Emanoel Araújo, Burle Marx, Carlos Scliar, Darcy Penteado, entre outros.
Do mesmo modo, a pedido da Rhodia, faz estampas para tecidos. Lívio Abramo, Fayga Ostrower, Antônio Maluf, entre outros, também participam da empreitada.
Nesse ano, convidada por Niomar Moniz Sodré Bittencourt, Maria Bonomi e Jayme Maurício organizam uma exposição no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro, projetada por Karl-Heinz Bergmüller, na qual a inovadora montagem é mais uma demonstração do processo da gravura do que uma simples mostra, já que a artista apresenta as fases de suas obras. Em ateliê aberto, ministra cursos e responde à perguntas, enquanto imprime gravuras junto dos visitantes.
Na abertura dessa exposição, é também lançado Balada do Terror e Oito Variações, álbum de litografias que Bonomi começa a fazer em São Paulo, ainda em 1968, com o mestre impressor Octavio Pereira.
Data desse mesmo ano de 1971 uma carta de Clarice Lispector, amiga de Bonomi e madrinha de seu filho, publicada no Jornal do Brasil de 2 de outubro de 1971. Nela, Clarice Lispector escreve, sobretudo, a respeito da matriz de uma gravura de Bonomi intitulada A Águia, atentando para o fato de estar na matriz, e não na estampa, o registro das emoções: todo o trabalho dos instrumentos, os sulcos, as reentrâncias e os delineamentos da composição.
Na Europa, realiza individual na Galerie Buchholz, em Munique. Mário Pedrosa apresenta a artista em catálogo.
Na recém inaugurada Praça Roosevelt, em São Paulo, Maria Bonomi realiza exposição de posters serigrafados com poemas de Carlos Drummond de Andrade. Indicando sua preocupação com o espaço público, por ocasião dessa exposição, fala a artista no O Estado de S. Paulo de 4 de fevereiro de 1970: “Será formidável se conseguirem jogar tudo o que há de arte na praça”.
Como membro da Assessoria de Artes Plásticas da Pré-Bienal, em 1968, Bonomi participa, de maneira direta, das decisões da Fundação Bienal de São Paulo. No ano seguinte, todavia, desgastada pelos desentendimentos com a organização da referida Bienal e desiludida com os rumos políticos do país, conforme carta à Ciccillo Matarazzo datada de 8 de agosto de 1969, Bonomi, além de desvincular-se da assessoria da Bienal, ainda recusa convite para expor em sala especial na X Bienal Internacional de São Paulo, aderindo assim ao boicote promovido pelos artistas brasileiros. Na Europa, contudo, expõe na Triennale Internazionale Della Xilografia Contemporanea, em Carpi, Itália, e na 8th International Exhibition of Graphic Art, em Liubliana, antiga Iugoslávia, na qual recebe prêmio aquisição Musée d’Art Moderne à Ljubjana.
No Brasil, ainda em 1969, no XXIII Salão Municipal de Belas Artes de Prefeitura de Belo Horizonte, recebe o Grande Prêmio Prefeitura de Belo Horizonte pela xilogravura A Águia.
Nesse ano, integra a seleção de artistas brasileiros convidados por Antônio Bento para expor na Cinquième Biennale de Paris, exposição para artistas até 35 anos. Procurando romper limites, Maria Bonomi exige espaço de mais visibilidade para suas gravuras, com até dois metros, do que simples gabinetes, mesmo que para isso venha a desacatar normas da Bienal de Paris. Conta a artista que ela, Antonio Bandeira, Jacques Lassaigne e a delegação cubana causam grande incidente para que seja permitido expor nas paredes as gravuras de Bonomi. No dia seguinte a artista recebe o Prix de la Fondation Theadoron, fundação de Chicago.
Ainda em 1967, junto de outros artistas, como Chico Buarque de Holanda, Mário Pedrosa, Ferreira Gullar, Lígia Fagundes Teles, assina documento, publicado no jornal A Tribuna, Santos, de 15 de janeiro de 1967, denunciando o caráter antidemocrático da Constituição brasileira.
Em ano movimentado, Bonomi, mais uma vez, reconhecida pelo seu excelente trabalho em teatro, recebe, por A Megera Domada, peça de Shakespeare encenada em 1965, o prêmio Figurinista (APCA), dois prêmios Saci de Teatro - Melhor Figurinista e Melhor Cenógrafo e Prêmio Molière - Melhor Cenógrafa e Prêmio Governador do Estado - Melhor Cenógrafo.
Ainda em teatro, faz os figurinos para a peça Júlio César, também de Shakespeare.
Em artes gráficas Bonomi realiza individuais na Petite Galerie, no Rio de Janeiro, e na Cosme Velho, em São Paulo.
Com Fernando Lemos, Maria Eugênia Franco e Salvador Cândia, elabora texto intitulado Por uma Reestruturação das Bienais, no qual aponta problemas e indica soluções para a manutenção das Bienais como importante meio de divulgação de novos valores artísticos.
Críticos de arte, em jornais de 1965, exaltam a gravura de Maria Bonomi, prêmio de Melhor Gravador Nacional da VIII Bienal Internacional de Arte de São Paulo. Evidenciam, principalmente, as cores e as dimensões das gravuras que a artista faz, atribuindo-lhes beleza e monumentalidade.
Além da arte, exalta-se também a postura política da artista, inquietante. Maria Bonomi, na cerimônia de inauguração da VIII Bienal, entrega para o então presidente do Brasil, Castello Branco, uma solicitação, assinada por diversos intelectuais, de revogação das prisões preventivas de Mário Schemberg, Fernando Henrique Cardoso, Florestan Fernandes e Cruz Costa.
Na VII Bienal de São Paulo, em 1963, Bonomi, além de expor seis xilogravuras e de receber por uma delas, chamada Espacial, Prêmio Aquisição, ainda participa da bienal adjunta de teatro, com maqueta e figurinos de Yerma, de Garcia Lorca, apresentada no Teatro Brasileiro de Comédia em 1962, e com maqueta de Sem Entrada e Sem Mais Nada, peça de Roberto Freire em cartaz no Teatro Maria Della Costa, em 1961.
Em 1964, é convidada a integrar o pavilhão brasileiro montado na XXXII Espozicione Biennale Internazionale d’Arte, em Veneza, junto de Volpi, Tarsila do Amaral, entre outros. As vinte e cinco obras que expõe na Bienal italiana impressionam muitos galeristas europeus, os quais convidam a artista para expor em galerias da França, Áustria, Alemanha e da antiga Iugoslávia.
Nesses anos, junto da editora Giroflé, participa de projeto voltado à educação infantil; assim, ilustra Sindicato dos Burros, livro de contos infantis de Fernando Silva, publicado em 1963, e Ou Isto ou Aquilo, livro de poemas de Cecília Meireles, publicado em 1964.
Em 1960, ao lado de Lívio Abramo, funda ateliê experimental para o ensino de gravura em madeira e metal: o Estúdio Gravura. Além dessa atividade de ensino, no Estúdio são produzidos convites, cartazes e livros; tanto assim que, em 1961, é publicado o Álbum Brasil: seleção de documentos da história do País, coligidos por Sergio Buarque de Hollanda, e seleção de gravuras de Maria Bonomi, Lívio Abramo e João Luís Chaves, artista que, em 1961, passa a dar aulas no Estúdio. No mesmo ano de 1960, a gravadora inicia trabalhos com cenografia e figurinos para espetáculos teatrais. Convidada pela Cia Tonia-Celi-Autran, Maria Bonomi começa desenvolvendo a cenografia e os figurinos para Hoje Comemos Rosas, de Walmir Ayala, e Fim de Jogo, de Samuel Beckett; ambas apresentadas, paralelamente, no Teatro Bela Vista nos meses de junho e julho de 1960. Em dezembro do mesmo ano, faz cenários e figurinos para peça de Arthur Miller intitulada As Feiticeiras de Salém, pela qual recebe, no ano seguinte, seu primeiro prêmio em teatro, Revelação, concedido pela Associação Paulista dos Críticos de Arte.
Ainda em 1961, Bonomi casa-se com o diretor Antunes Filho e, no ano seguinte, tem um filho, chamado Cássio Luis Bonomi Antunes.
Maria Bonomi, além de trabalhar em diversas peças teatrais com o diretor, produz, também com ele, programa de televisão veiculado pela extinta emissora Excelsior, chamado TV Arte, no qual são entrevistadas personalidades do mundo artístico. No primeiro programa, em dezembro de 1961, a personalidade é a poetisa Hilda Hilst. Nos anos que seguem, Arcângelo Ianelli, Dora Vasconcellos, Viveca Lindfors, entre outros grandes nomes, também participam do programa.
Domingos de Andrade torna-se o primeiro impressor da artista depois de auxiliá-la na pintura de uma cenografia.
Após expor em individuais e coletivas nos Estados Unidos, com destaque para a individual apresentada na Pan American Union, em Washington D. C., Maria Bonomi regressa ao Brasil, expondo, a partir do meio do ano, em São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte e Porto Alegre, apresentando trabalhos desenvolvidos fora do País. Nesse mesmo ano, vai para o Rio de Janeiro para a oficina de gravura em metal de Johnny Friedländer, instalado no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro.
Ainda em 1959, secretaria Mário Pedrosa no Congresso Extraordinário Internacional dos Críticos de Arte, por ocasião do lançamento de Brasília.
Maria Bonomi inicia o Museum Training I, com o professor Weinberger, curso oferecido pela New York University e desenvolvido quase todo dentro do Metropolitan Museum. Com Hans Müller cursa Advanced Graphic Arts na Columbia University e com Meyer Schapiro Fine Arts na mesma Universidade. No mesmo ano, tem aulas com o mestre chinês Seong Moy e, em junho, recebe bolsa da Ingram-Merril Foundation para estudar no Pratt-Contemporaries Graphic Art Centre, centro de estudos gráficos do Pratt Institute de Nova Iorque.
No Pratt, Maria Bonomi amplia seu horizonte técnico e artístico, passando a fazer gravuras de grandes dimensões, as quais atingem até noventa centímetros. Os temas, em trabalhos resolvidos com sínteses gráficas, ligam-se à natureza e à paisagem urbana; considere-se ainda que fatos indicam uma das possibilidades de leitura para suas obras. Data desta época a xilogravura Parade, obra motivada por um desfile ocorrido na Fifth Avenue em Nova Iorque, adquirida posteriormente por Nelson Rockfeller, então governador do estado de Nova Iorque.
Em novembro de 1958, Maria Bonomi abre sua primeira exposição individual nos Estados Unidos, na Roland de Aenlle Gallery de Nova Iorque. A exposição é assunto de artigo publicado no jornal The New York Times de 21 de novembro de 1958, no qual Dore Ashton, colunista de arte do jornal, tece elogios sobre o trabalho da gravadora. Salvador Dali, surrealista espanhol, também visita a exposição de Bonomi na Roland, fato este documentado pela revista O Cruzeiro de 18 de abril de 1959.
Em dezembro de 1956 Bonomi viaja para a Europa novamente e, no ano seguinte, passa a frequentar o ateliê de Emílio Vedova, pintor italiano que conhece desde 1953. Em companhia dele, Bonomi visita museus e galerias da Áustria, Bélgica e Holanda.
Além disso, como declara em depoimento de 1999, auxilia Vedova, junto com Mário Cravo, nos ateliês de Veneza e de Berlim, assistindo-o em alguns trabalhos que ele desenvolve.
Da Europa vai para os Estados Unidos, possivelmente em fins de 1957. Nesse mesmo ano, como afirma Maria, em Nova Iorque, junto com Henri Zerner, começa a freqüentar o atelier gráfico de Tânia Grossman, onde costumava encontrar Rauschenberg, Jasper Johns, Lee Bontecou e Lee Krasner, a viúva de Pollock.
No Museu de Arte Moderna de São Paulo, Maria Bonomi realiza sua primeira exposição individual, na qual exibe trabalhos dos anos de 1955 e 1956. São 58 obras entre monografias e xilogravuras, feitas a partir do período de vivência com Karl Plattner e de estudos com Lívio Abramo. Lourival Gomes Machado apresenta a arista em catálogo da mostra.
Nesse mesmo ano, recebe o 2º Prêmio de Gravura Arte Contemporânea, instituído pelo industrial Isaí Leirner, o qual é dividido com Lygia Pape.
Ainda em 1956, escreve artigo publicado na XXe Siècle, de Paris, intitulado Rencontre Avec Sophie Taueber-Arp.
A artista conhece seu futuro mestre: Lívio Abramo. Conta Maria que depois de visitar a exposição do gravador no Museu de Arte Moderna de São Paulo, ainda localizado na rua Sete de Abril, pede a ele para aceitá-la como aprendiz, o que só acontece, como ela mesmo se lembra, depois de muita insistência.
Inicia-se lixando madeira, afiando instrumental e imprimindo as matrizes de seu mestre em papel arroz;
só após esse conhecimento do material próprio à xilogravura começa a gravar, todavia, em linóleo. Depois desse aprendizado passa a gravar em madeira, de fio e de tôpo. Ainda nesse ano, Bonomi participa de duas importantes exposições. Na III Bienal de São Paulo, apresenta as pinturas Retrato I e Catedral, tornando-se a mais jovem expositora daquela Bienal. Em Neuchâtel, na Suíça, participa da exposição Arts Primitifs et Modernes Brésiliens, apresentada no Musée d’Ethnographie de Neuchâtel. Nessa exposição, sua primeira fora do Brasil, Bonomi expõe gravura ao lado de grandes nomes, como os de Edith Behring, Marcelo Grassmann e o de seu mestre Lívio Abramo.
Com obras em lavis, utilizando-se do branco e do preto, a artista ilustra oficialmente seu primeiro livro, Vesperal de Silêncio de Geraldo Azevedo.
Ainda nesse ano, contribui com a revista Il 4 Soli, de Turim, colaborando com o artigo “Letera dal Brasile”.
De volta ao Brasil, Bonomi inicia estudos com Karl Plattner, auxiliando-o, poste-riormente, ao lado de Wesley Duke Lee, na execução do Painel das Folhas.
De sua vivência com Plattner, de relação que estabelece com integrantes do movimento concretista de São Paulo, assim como a partir de sua correspondência com Prampolini, na qual se lê conceitos artísticos, Bonomi leva sua arte à geometrização. Data deste período uma série de encáusticas, pinturas nas quais Bonomi trabalha a imagem à maneira dos concretistas.
Nesse mesmo ano, participa de uma exposição coletiva intitulada I Salão de Agosto, no Instituto Israelita Brasileiro, em São Paulo. Neste Salão, Bonomi recebe Menção Honrosa pelas obras Porto, Retrato e Sonhos de Uma Noite de Verão.
Com Yolanda Mohalyi, continua a desenhar e já dá início ao uso do gouache, do lavis e do óleo. As paisagens que pinta nessa época delineiam-se por manchas de tinta que compõem uma imagem pouco detalhada. Destas, uma é reproduzida em artigo de Lina Bo Bardi publicado na revista Habitat de 1952, por ocasião da exposição coletiva dos alunos do ateliê de Yolanda Mohalyi no Museu de Arte de São Paulo, o Masp.
Neste mesmo ano de 1952, Maria Bonomi viaja para Europa, permanecendo a maior parte do tempo em Milão, Roma e Paris, hospedada em casas de parentes. Com seu tio Ginetto Luigi Bonomi, arquiteto e colecionador de arte, visita ateliês e coleções de arte da Itália, convivendo com colecionadores, restauradores e, evidentemente, artistas, entre os quais Marino Marini, Mario Sironi e Alberto Magnelli. É também através de seu tio que Maria Bonomi conhece, em Roma, o artista Enrico Prampolini, com quem trabalha a propósito de uma cenografia e estabelece importante relação artística nos anos seqüentes.
Descendente de italianos destacados, quer na Itália quer no Brasil, Maria Bonomi desde cedo freqüenta importantes círculos culturais de São Paulo e do Rio de Janeiro como, por exemplo, as reuniões em casa dos Magnelli, Ascarelli, Bardi e Matarazzo. Assim, participa de momentos importantes da história das artes da capital paulista, como o da criação da Bienal Internacional de Arte, com a qual, aliás, sempre manteve relação, por vez, controversa.
Por insistência de Marcela Ascarelli, amiga da família e uma das mais importantes colecionadoras de arte da época, a mãe de Maria, Georgina Martinelli Bonomi, decide levar a adolescente até o ateliê de Lasar Segall. Após analisar a pasta da iniciante, o expressionista, telefona para a pintora Yolanda Mohalyi, pedindo que esta encaminhe a futura artista.
Com a morte de Martinelli, Maria Bonomi é levada para São Paulo, onde passa a estudar no Colégio das Cônegas de Santo Agostinho, o Des Oiseaux.
No Colégio, Bonomi conclui o colegial clássico.
Maria, como gosta de dizer, sempre teve a obsessão do desenho. Desenhava, até mesmo por um problema de surdez que a acompanhava quando criança. Assim, por força de sua obsessão, a futura artista, com apenas doze anos, recebe prêmio de desenho em concurso do Colégio.
Seguem de trem para a França, depois Espanha até chegarem em Portugal, de onde embarcam para o Brasil. No Rio de Janeiro, hospedam-se na casa do avô materno de Maria, o já afamado Giuseppe Martinelli. A família da artista segue para São Paulo, enquanto ela permanece no Morro da Viúva, em casa do avô. Lá, Maria, como nos conta, convive com grupo de artesãos originários de Lucca que moram e trabalham com o Comendador Martinelli. Rosina, filha do empreiteiro Egisto Bertini, instrui Bonomi na confecção de uma pomba de gêsso que figuraria no alto da porta da capela do Morro, como queria o Comendador.
Sua infância na Itália é marcada pela II Guerra Mundial.
Como afirma Maria, seu pai, engenheiro militar, luta na Guerra. Lembra-se também a artista que, por volta de 1942, sua casa na Itália é ocupada pelo exército alemão e utilizada como centro de operações de guerra. Sua mãe, Georgina Bonomi, por ser brasileira e ter o direito de retirar sua família da Itália, decide, cansada daquela situação, seguir para o Brasil. Assim, atravessam a fronteira italiana e chegam à Suíça, onde, em Berna, abrigam-se com Raul Bopp, diplomata brasileiro.
Maria não tem mais que seis anos de idade e recebe, do também poeta, seu livro de poesia modernista, intitulado Cobra Norato, para o qual faz, descompromissadamente, ilustrações.
Nasce em Meina, aldeia localizada às margens do Lago Maggiore, nas proximidades de Milão, em julho de 1935, de mãe brasileira, Georgina Martinelli Bonomi, e pai italiano, Ambrógio Bonomi.