A primeira exposição individual de Maria Bonomi, 77, em Paris é grandiosa.
Logo na entrada do imponente Hôtel Particulier, pertencente à Maison de l'Amérique Latine -e antes residência do Dr. Charcot, considerado o pai de neurologia, que atraiu à capital francesa o jovem doutor Sigmund Freud-, uma sala pintada de vermelho expõe a mais recente obra da artista: quatro esculturas suspensas, em formato côncavo.
No chão, um globo em alumínio chamado "Super Quadrante Amor Inscrito" dialoga com as obras aéreas. O chão é coberto por pedaços de tecido vermelho, que os visitantes pisam enquanto percorrem o ambiente.
Para apresentar a célebre artista brasileira ao público francês e preencher a lacuna existente na cultura local em relação à obra de Bonomi, o curador Jorge Coli escolheu 40 obras representativas de todas as fases da artista.
Maria Bonomi, que é gravadora, escultora, pintora, muralista, figurinista e cenógrafa, tem nas gravuras sua marca registrada.
Algumas de suas obras estão espalhadas por São Paulo, como o painel "Futura Memória", de 1989, parte do acervo do Memorial da América Latina.
Com o arquiteto Oscar Niemeyer, Bonomi concebeu um projeto sobre os maus-tratos da população indígena brasileira pelos portugueses durante a colonização.
Seus trabalhos se estruturam em madeira, alumínio e concreto, com o objetivo de "impregnar o entorno, o protagonista de toda sua obra", como explica a autora.
Para a artista, a exposição na França fecha o ciclo começado ainda em 1967, quando foi contemplada com o prêmio especial de gravura na Bienal de Paris.
Bonomi é também neta de Giuseppe Martinelli, construtor do primeiro arranha-céu da América Latina, o Edifício Martinelli, datado de 1929.
Foi a própria artista quem conduziu um grupo pelas salas da exposição, inaugurada em 15 de maio pelo embaixador brasileiro José Maurício Bustani.
Admirar as obras de um artista guiado pelo próprio autor é um privilégio que não se deixa escapar.
MARCAS DO PASSADO
Ao passar por cada uma das obras, Bonomi explica a técnica e a contextualiza no tempo. "Balada do terror" foi feita para homenagear Dulce Maia, a ex-militante da Vanguarda Popular Revolucionária, e todos os torturados pelo regime militar (1964-85).
Essa e outras obras do mesmo período foram batizadas de "Calabouço".
Tão sombrias quanto o período histórico no qual se inspiram, as peças testemunham a época em que a artista foi presa juntamente com outros intelectuais ao assumirem uma posição contrária à censura e denunciarem as práticas de tortura.
"A exposição é importante porque Paris não conhece sua obra. São criações excepcionais que provêm de uma artista cuja qualidade de produção é reconhecida. E expor em Paris significa maior afirmação internacional para uma artista já consagrada no Brasil ", diz Coli.
"O público francês vai poder descobrir o rigor compositivo associado à leveza luminosa, as transições entre gravação, escultura e arquitetura", resume o curador.
A retrospectiva da obra de Bonomi parte do que se tornaria seu núcleo genético mais forte: a xilogravura.
Algumas matrizes em madeira, verdadeiras esculturas que a artista convida o visitante a admirar com os olhos e com o tato, estão presentes, como as esculturas em metal chamadas de "Favela", espécie de grande arcada esculpida em peças de alumínio.
Maria Bonomi gosta que as pessoas acariciem a superfície de suas matrizes. Por isso, sugeriu que fossem colocadas em algumas obras a etiqueta com a inscrição em francês "Prière de toucher" (toque, por favor).
Artista plástica Maria Bonomi, um dos principais nomes da criação artística brasileira há mais de meio século, inaugura nesta terça-feira uma exposição de sua obra na Maison de l'Amerique Latine em Paris.
A exposição reúne cerca de trintas gravuras grandes além de uma figura aérea apresentada pela primeira vez ao público. De acordo com a artista, a mostra passa pela vida de Maria, desde a juventude como estudante até os dias de hoje.
Maria disse à Agência Efe que como não há espaço suficiente para mostrar todo seu trabalho, sobretudo os de grandes dimensões, utilizará vídeos. A brasileira ressaltou que faz todas suas obras a mão, tanto gravuras sobre madeira como peças gigantes de cimento, alumínio ou aço.
A artista disse que além de uma maneira antiga de trabalhar, as gravuras são "uma linguagem muito intimista". Maria ainda destacou que na Europa essas obras estão no meio de praças, mas não nos edifícios.
Algumas mostras do trabalho de Maria Bonomi podem ser vistas no metrô de São
Paulo, no Palácio do Governo desse Estado ou em instituições privadas como a fachada do edifício Jorge Rizkallah, e o Banco Exterior da Espanha em Santiago do Chile, informaram os organizadores da exibição.
Nesta incursão europeia via Paris, a brasileira disse ter a intenção de mostrar de uma forma diferente de "pensar a gravura" no velho continente.
"Tenho muita esperança de ver um público curioso, porque apresento peças bem simples, mas que propõem mudar a condição da arte de gravura", disse.
A artista, disse que não cria obras só para os olhos. "Há exceções, mas a tendência é sempre um exercício plástico, não um exercício emocional, um fenômeno do olho e não da alma".
Maria, que desde os anos 70 exerce a função artista, lembrou da época da ditadura que viveu, sem ser aceita oficialmente pelo mercado da arte de seu país. "Viemos de uma coisa muito negra", disse.
Enquanto muitos artistas fizeram carreira sustentados pela ditadura, ela preferiu trabalhar na antiga Iugoslávia, na Eslovênia e em Praga. No entanto, ela nunca deixou de viver no Brasil. "A ditadura era o momento de ficar, não de sair", comentou.
Entre suas obras, a artista destacou uma primeira colaboração com o arquiteto Óscar Niemeyer, um projeto sobre os maus-tratos da população indígena brasileira pelos portugueses durante a colonização.
A artista, que nasceu na Itália e chegou ao Brasil ainda criança, em 1946, definiu o país como o lugar de "todas as invenções". Maria Bonomi recebeu, em 1967 um prêmio na Bienal de Paris.
Maria Bonomi ganha hoje sua primeira exposição individual na Inglaterra. A Galeria 32, interessante espaço anexo à Embaixada Brasileira em Londres, leva ao coração do West Side londrino uma significativa mostra da artista brasileira. Apesar de ser um espaço pequeno, se comparada à retrospectiva que ocupou a Pinacoteca do Estado no ano passado, a mostra da 32 faz um recorte preciso dos tópicos mais importantes da carreira da artista, que é referência quando o assunto é esculpir o tempo nos veios da madeira. Estão lá obras que ajudaram a definir o perfil de uma trajetória calcada na investigação da memória como ferramenta de criação de uma arte preocupada em dialogar com o público, sem a necessidade de perder seu caráter particular.
Se não tem o mesmo privilégio do público brasileiro, como a de poder se deliciar com o painel Epopeia Paulista em plena Estação da Luz, o público inglês tem a vantagem de conferir obras como a inédita Transformed. Com dois metros de altura, essa xilogravura foi criada por Maria para a ocasião. "Na verdade, ela faz parte de uma coleção maior de gravuras, a Integration, que há pouco foi adquirida integralmente pela Bolsa de Valores de São Paulo", explica Maria. Confeccionada sobre papel japonês, em tons de azul e cinza, a obra dialoga com as duras linhas geométricas das grandes metrópoles.
Outros destaques são Love Layers (2008), Tetraz (2003) e Tropicália (1994). "A Tropicália está aqui da mesma maneira que estava na Pinacoteca, com as matrizes e como gravura. Há também a Sex Appeal (1985) e Epigrama (1984)", conta ela. "Não tem um caráter de exposição diplomática. As gravuras estão presas com grampinhos, o papel está exposto para ser tocado. Tudo informal. Esta mostra é apoiada na seleção da Pinacoteca em uma escala menor, mas significativa."
Não por acaso, a mostra tem apresentação de Marcelo Mattos Araújo, diretor da Pinacoteca. "O Marcelo foi muito afetuoso e a curadoria, a cargo da Maria Helena Peres Oliveira e do João Guarantani, também me deixou muito feliz. Não é uma seleção ?cabeça?. O destaque está no sensorial. É cheia de libido, de emoção, em vez da razão de uma curadoria tradicional."
Para completar, a faceta ?arte pública? de Maria é revelada em quatro vídeos assinados pelo videoartista Walter Silveira. "Não poderia deixar de abordar essa vertente. Principalmente aqui, onde esse caráter é tão interessante. A Inglaterra tem sabor especial. Foi com um professor inglês, nos anos 70, que eu aprendi muito. Fui selecionada para um curso que abordava justamente a arte revolucionária. Esse professor nos aproximou da experiência das instalações, que na época era algo muito avançado. Foi então que percebi que havia uma vertente acadêmica que queria romper com os academicismos. Esse professor me dizia: Maria, no limits!"
Romper os limites é palavra de ordem quando o assunto é a arte pública de Maria. Muito por isso, descobrir onde se escondem, e se encontram, os artistas urbanos de Londres era uma das tarefas em sua lista de afazeres. Sempre atenta ao tempo e espaço em que navega, durante a conversa com o Estado na semana passada, Maria queria saber onde era o endereço da arte urbana londrina. "Não há muita arte pública nas estações de metrô da cidade?", pergunta ela. Diante da resposta negativa, começou a ter ideias para provocar e dialogar com o cosmopolita morador da cidade. "Esta cidade tem um lado muito duro, mas percebo a vontade de romper com tudo. É nesse sentido que a gente se encontra. E há tanto o que ser explorado aqui. As pessoas poderiam contribuir com as obras, com suas próprias histórias, como fizemos na Luz."
De fato. Não seria nada mal se Londres ganhasse sua Epopeia Londrina. Memórias e camadas de história não faltam.
Por ocasião do seu centenário, o Arquivo Histórico Municipal Washington Luís (AHMWL), lançou nesta terça-feira, 6, o seu Guia do Arquivo e Selo Comemorativo, criado pela artista plástica Maria Bonomi. O evento foi realizado na Galeria Olido e estavam presentes funcionários de vários órgãos públicos, como Centro Cultural Vergueiro, Museu Paulista/USP e Cedem da Unesp, entre outros.
O acervo da instituição mantém um vasto e importante volume documental da vida pública paulistana, que abrange o período de 1555 a 1921 de textos, fotos, plantas, projetos arquitetônicos e mapas da cidade de São Paulo.
Entre os mais antigos documentos estão os da Câmara Municipal de Santo André da Borda do Campo (1555-1558). Além dos documentos do município, dispõe de fundos particulares, como o de Severo e Villares S/A, Armando Prado, Siqueira Franco, Escritório Caio da Silva Prado. Criado pela Lei n. 1.051 de 17/10/1907, o AHMWL atualmente faz parte da Divisão Técnica do Departamento do Patrimônio Histórico da Secretaria Municipal de Cultura de São Paulo.
Além de recolher, preservar e tratar da documentação, o arquivo municipal desenvolve pesquisas a partir do acervo para sua difusão por meio de publicações, que edita desde 1934 e faz o atendimento na Praça Coronel Fernando Prestes, 152, no bairro do Bom Retiro, no edifício projetado pelo arquiteto Ramos de Azevedo, de segunda a sábado das 9 às 17 horas.